quarta-feira, 14 de novembro de 2012



REFORMA SOCIAL

A doutrina maquiavélica aconselha aos príncipes, que queiram perpetuar seu nome, que façam em seu principado as reformas e inovações as mais radicais possíveis. Mesmo que isto signifique transferir populações inteiras de uma região, ou de uma cidade para outra. Isto fará com que as futuras gerações sempre se lembrem que tudo começou com tal príncipe.
No Brasil, sob muitos aspectos, os nossos governantes ainda se deixam aconselhar por Maquiavel. Não se costuma valorizar ou respeitar a continuidade das obras públicas. Daí a enormidade de obras inacabadas que se espalham pelo País. Projetos não finalizados em uma gestão correm alto risco de, no governo seguinte, serem abandonados. Por isto, quem garante que o projeto da transposição do Rio São Francisco tenha continuidade no próximo governo, se este for de outro partido?
A Carta Magna do País (a Constituição) de 1988 hoje está cheia de remendos. Os Presidentes, que se sucedem, juram governar de acordo com a Constituição. Mas, já em seus primeiros atos, propõem mudanças da Constituição, sobre a qual juraram. Para fugirem do maquiavelismo, as mudanças que propusessem na Constituição apenas deveriam ser para o Presidente que os sucedesse. Do contrário, tornam-se perjuros.
Um mote constante no mundo político é a reforma política: o eleito não deve trocar de partido, o mandato é do partido; extinção dos pequenos partidos de aluguel; financiamento público das campanhas eleitorais, voto distrital, lista fechada de candidatos dos partidos, etc. etc. O que tudo isto significa para a população brasielira? O que a maioria do povo entende de tudo isto? Um povo que não vota em partido, mas em quem lhe dá um prato de sopa, um caixão, uma dentadura, uma cesta básica, uma bolsa, um vale, um ¨salário¨... e tantos programas assistenciais, que levarão populações inteiras a uma grande miséria caso deixem de funcionar.
O que o povo brasileiro necessita, em primeiríssimo lugar, é uma reforma social, em que se ofereçam oportunidades de trabalho, educação para o trabalho, uma consciência de justiça social e política. Uma reforma social que acabe com a escravidão disfarçada, em que está mergulhada a maioria dos trabalhadores brasileiros, com salários que não lhes permitem uma vida digna; uma reforma social que acabe com a exploração, por parte de firmas nacionais e estrangeiras, dos profissionais, formados em nossas universidades, com a exploração dos jovens estagiários, que acabe com a confusão das leis trabalhistas, não fiscalizadas e não observadas, etc. etc.
A reforma política, que polariza as preocupações de muitos parlamentares, e de muitos politólogos, não resolverá problema algum do povo brasileiro. Desde a Independência, quantas reformas políticas já aconteceram? Inúmeras. E quantas reformas sociais? Nenhuma!
Com tantos políticos e juristas brilhantes em nosso país, por que a maioria do povo brasileiro está nesta ¨lasca¨, precisando de esmolas e programas governamentais assistencialistas? Com a reforma política, que se pretende, os políticos futuros continuarão os mesmos: as mesmas oligarquias, os mesmos anões, os mesmos mensaleiros, os mesmos vaqueiros, os mesmos turistas políticos, as mesmas ¨lideranças¨ maquiavelicamente inovadoras das tramóias eleitoreiras. Por isto, a prioridade das prioridades para o Brasil, no momento e para o futuro, é uma profunda reforma social, e não uma reforma política, espalhando areia nos olhos de um povo incauto, que se contenta com esmolas, de quem busca os próprios interesses, e não o bem comum, que deve ser a finalidade de toda organização política democrática. A reforma política  seguirá como exigência da reforma social.

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