segunda-feira, 27 de maio de 2013

Maior renda não erradicou miséria social

O governo Dilma Rousseff melhorou a renda dos pobres, mas não solucionou seus níveis miseráveis de acesso a emprego e educação.
É o que revela um indicador que o próprio governo federal usa para analisar a pobreza no país, cuja base de dados de dezembro de 2012 a Folha obteve por meio da Lei de Acesso à Informação.
Chamado de Índice de Desenvolvimento da Família (IDF), ele é aplicado ao Cadastro Único (banco de dados federal sobre famílias de baixa renda) e possibilita uma mensuração detalhada da situação do pobres.
Em vez de definir a pobreza só pela renda, como faz a propaganda oficial, o IDF a divide em seis dimensões: vulnerabilidade da família, disponibilidade de recursos (renda), desenvolvimento infantil, condições habitacionais, acesso ao trabalho e acesso ao conhecimento.
Cada uma delas ganha uma nota, que varia de 0 a 1, onde 1 significa que a família tem todos os direitos fundamentais ligado a cada dimensão garantidos, e 0 significa que tem todos eles violados.
Juntas, essas seis notas criam uma média geral --que, no caso dos pobres brasileiros, está em 0,61.
Editoria de Arte/Folhapress
O índice de renda, por exemplo, está acima da média: 0,63. Essa performance tem relação com as mudanças feitas no Bolsa Família, que elevaram o orçamento do programa em cerca de 67%, chegando a R$ 24 bilhões.
A última ampliação, feita em 2013 e portanto não captada pelos dados obtidos pela reportagem, concedeu um complemento para quem tivesse rendimento mensal per capita inferior a R$ 70 --considerado pelo governo teto para caracterizar a miséria.
CAMPANHA
Essa erradicação monetária da pobreza extrema cadastrada motivou uma campanha publicitária que anunciou que "o fim da miséria é só um começo".
Eco da promessa feita por Dilma em 2010 de acabar com a extrema pobreza, o mote estará em sua campanha pela reeleição no ano que vem.
O que contradiz o slogan é o desempenho das dimensões "acesso ao conhecimento" e "acesso ao trabalho". O índice da primeira, que capta a situação de adultos e de parte dos jovens, está em 0,38. O da segunda, em 0,29.
É difícil fazer uma análise comparativa dessas notas, uma vez que não existem cálculos recentes do IDF para toda a população.
No entanto, uma maneira de traduzir as notas é pensar que o IDF foi concebido no segundo governo Fernando Henrique Cardoso para medir o grau de acesso a direitos fundamentais por meio de perguntas objetivas --a cada "sim" a nota aumenta, e a cada "não", diminui.
Aplicando essa ideia à nota geral, é como dizer que os pobres brasileiros têm acesso a 61% de todos os seus direitos fundamentais e são privados de 39% deles.
Em relação às notas mais baixas, é como dizer que eles acessam 29% dos direitos ligados ao trabalho e 38% dos relativos ao conhecimento. Alguns componentes detalham essas dimensões. Por exemplo, a proporção de famílias pobres com ao menos um adulto analfabeto, que supera os 80%.
Como o país experimenta algo próximo do pleno emprego, uma possível explicação é que a falta de formação nessa fatia da população é o maior limitador para que ela encontre trabalho.
A baixa nota das duas dimensões indica também que o número de pessoas que precisa do Bolsa Família não deve diminuir tão cedo, porque o emprego e a educação são tidas como as principais "portas de saída" do programa.
OUTRO LADO
O Ministério do Desenvolvimento Social afirmou que o país experimenta "inegáveis" avanços na educação e no trabalho, que não necessariamente são captados pelo Índice de Desenvolvimento da Família (IDF).
"O Cadastro Único tem particularidades, entre elas o fato de as pessoas buscarem o cadastramento exatamente quando enfrentam períodos de dificuldades socioeconômicas e choques negativos, como perda de emprego", afirmou a pasta.
"Dessa maneira, os inegáveis avanços que o país teve nas áreas de educação e trabalho são muito mais bem capturados por meio de fontes de dados voltadas especificamente a esses temas, como, por exemplo, o Censo da Educação Básica."
Em relação à dimensão "acesso ao conhecimento", a pasta informou que ela está "focada na escolaridade dos adultos e não das crianças e adolescentes, público-alvo do acompanhamento das condicionalidades do Bolsa Família". A dimensão que mede o grau de desenvolvimento infantil obteve a melhor nota no IDF, alcançando 0,85.

Fonte: FOLHA DE S.PAULO, 27 DE MAIO DE 2013.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

É PRECISO APRENDER A PESCAR...

Episódio realça importância do Bolsa Família na cultura dos pobre


A onda de saques, filas e tumultos que se sucederam aos boatos sobre o fim do Bolsa Família ajudaram a consolidar fatos, ligar sinais de alerta no governo e, quem sabe, dar ideias a marqueteiros de campanhas eleitorais.
Para quem duvidava ou desconhecia, as imagens do fim de semana não deixam margem a dúvidas sobre a importância do programa hoje.





Com R$ 24 bilhões de orçamento anual e um cartão na mão de 13 milhões de famílias, o Bolsa Família está enraizado na cultura dos pobres do país. Se é assistencialismo, isso é outra discussão.
O fato é que não há no curto ou no médio prazo a possibilidade de reduzi-lo ou encerrá-lo, enquanto a economia anda a passos lentos, e a geração de empregos no interior e nas periferias parece uma realidade distante para que essas famílias possam abrir mão dos repasses.
O valor mínimo mensal de R$ 70 faz toda a diferença para o dia a dia de um miserável. Não fosse assim, ninguém ficaria assustado com boatos, a ponto de sair correndo de casa e ficar horas num empurra-empurra na fila de um banco.
Sobre a origem dos boatos, a Polícia Federal investiga. Se mostrar que houve uma tentativa de uso político, não terá sido a primeira vez.

Há anos -e sem a reação dos gabinetes de Brasília- o programa tem sido usado nas eleições municipais para sustentar um novo estilo de voto de cabresto no interior.
Funciona assim -como a base de dados do programa fica nas mãos dos municípios (o chamado Cadastro Único), candidatos a prefeito e a vereador usam o Bolsa Família como uma ameaça: se votar em mim, benefício mantido; caso contrário, exclusão do cadastro e fim dos repasses.
Essas ameaças podem voltar nas eleições municipais de 2016, mas antes disso há a disputa presidencial em 2014.


Chance para marqueteiros e coordenadores de campanha lançarem propostas para a criação de empregos e de geração de renda, e não mais uma vez simplificarem a disputa com promessas de ampliar o Bolsa Família e sobre a paternidade dos programas de transferência de renda.

Fonte: Folha de S.Paulo, 22 de maio de 2013.



quarta-feira, 22 de maio de 2013

POR QUE NÃO..


Eu quero crer num mundo sem fome

eu quero crer num mundo sem guerra

eu quero crer na dignidade e na paz

eu quero ver justiça na terra

Quero ver crianças brincando

quero ver o mundo se desarmando

quero crer na liberdade

quero ver a humanidade se amando

Eu quero crer e quero ver

um mundo mais justo com cada cidadão

eu quero crer e quero ver

apenas um mundo mais irmão

Quero crer na justiça do homem

porque creio na justiça divina

quero crer num mundo melhor

porque creio num mundo que ensina

Quero ver um sorriso num rosto sem fome

quero ver sempre uma bandeira branca hasteando

não quero muito, apenas um pouco

apenas cada um se conscientizando

Conscientizando que o mundo é de todos

mesmo obedecendo à hierarquia

governantes respeitando seus governados

para que haja paz e harmonia

Só é preciso que todos creiam como eu

que o mundo não está perdido

só é preciso que todos queiram como eu

um tempo melhor pra ser vivido

Não combater a violência com mais violência

não mendigar migalhas pra fome matar

não levantar armas, mas os braços para abraçarem

não criar mendigos, mas dar oportunidade para trabalharem

Um só mundo, uma grande família

em harmonia como o céu que vemos

assim deve ser o universo terreno

se cada um de nós crermos mais

Naquele que não vemos
Célia Jardim