quinta-feira, 18 de agosto de 2016

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA RELIGIÃO, CULTURA E DA ARTE

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA RELIGIÃO –DEUS E A RAZÃO

E.E. "OSWALDO CRUZ-CRUZEIRO/SP


Immanuel Kant (1724 - 1804) foi um filósofo alemão, considerado um dos maiores da história e dos mais influentes no ocidente. para Kant, o espírito ou razão modelava e coordenava as sensações, sendo as impressões dos sentidos externos apenas matéria prima para o conhecimento. Kant negava que existia uma verdade última ou a natureza íntima das coisas. Por isso, propôs uma espécie de código de conduta humano, surgindo daí, idéias para outra obra famosa, o seu livro A crítica da Razão Prática, que funcionaria como leis éticas que regeriam os seres humanos. A estas leis, deu o nome de Imperativo Categórico.De acordo com Kant, as provas da existência de Deus poderiam ser demonstradas dos pontos de vista ontológico (sobre o ser real de Deus), cosmológico (sobre a existência necessária e real de Deus) e físico-teológico (sobre o universo como resultante de um plano de um ser criador. Para kant, essas três provas , não podem ser demonstradas pela razão humana, porque temos a ideia de Deus, e não evidências sensíveis sobre seu ser, sua realidade e seu planejamento do mundo. Dentro da Uniformidade e diferença (O espírito das leis de Mostesquieu), observando a nossa sociedade, o que é preciso uniformizar e o que é preciso manter e respeitar quando se trata de diferenças culturais, pois com base nas reflexões sobre o cotidiano, diferenças culturais que não ferem a ética de solidariedade entre as pessoas e que não representam atos de violência contra a natureza e os outros homens devem ser respeitados e mantidos. Kant afirma que não podemos chegar à certeza da existência ou da não existência de Deus com base na razão,  segundo o pensamento do filósofo. O homem é um ser que pensa por meio de categorias limitadas. Qualquer ser que esteja fora dessas categorias não é passível de ser conhecido pelo homem. Deus estaria fora e além dessas categorias, por isso não poderíamos provar a sua existência.  Quando vemos uma grande obra, pensamos que algo ou alguém a construiu. No entanto, apenas podemos supor isso. A prova da existência de Deus, que se refere à causa inicial, não pode ser uma prova; ela é a suposição de que algo ou alguém fez o mundo. Uma suposição não é uma prova. Para Kant, a razão pura não prova a existência de Deus. Para pensar a realidade, precisamos de uma razão que se fundamenta na experiência, ou seja, a razão prática. A razão prática considera que, para conseguirmos objetivos, é preciso encontrar o melhor caminho. O melhor caminho torna-se o dever; assim, o dever é bom. Mas o dever também é um ideal, ou seja, ele existe na realidade e fora dela. O ideal máximo é Deus, que já é aquilo que se deve ser e, por isso, existe.


Deus como causa do mundo - Para Platão, não existe apenas um deus criador de tudo, mas existe um responsável pela organização do mundo. Ele seria o Demiurgo – um ser que copiaria o mundo perfeito das ideias na matéria imperfeita. Antes de o mundo existir, havia ideias perfeitas e eternas que foram copiadas na matéria pelo Demiurgo. Embora as cópias não sejam perfeitas, a ação do Demiurgo permitiu tornar o mundo inteligível, por ter ordenado o mundo sensível favorecendo nossa compreensão sobre ele. Para Aristóteles, Deus seria o primeiro motor, isto é, todas as coisas que se movimentam são movimentadas por outras coisas. As pessoas, os ventos, os mares, as nuvens, as árvores, cada ser no mundo passa do ato à potência, que é o movimento. Mas quem “daria o primeiro empurrão”, quem seria o primeiro motor? No livro Metafísica, a resposta apresentada por ele é Theós – que, em grego, significa Deus. Então, Deus existe porque alguém tinha de começar o movimento sem ser movimentado: um ato puro. Para Plotino, o mundo é parte de Deus. Deus é, assim, a fonte de tudo o que existe; Mas as coisas que emanam dessa fonte não se separam dela. Não existe a ideia de que os seres criados possam ser separados do criador, como no cristianismo. Assim como os objetos precisam da luz para aparecer, os seres precisam do Uno, ou Deus, para permanecer existindo; eles estão ligados, unidos, e tudo é parte de Deus. Por isso, quanto mais longe da fonte da luz estiver uma coisa, mais ela será sombria. Da mesma forma, quanto mais longe da fonte da existência, Deus, menor é a força de sua existência. Por isso, o Uno emana, primeiro, a inteligência; depois, a alma que governa o mundo e, enfim, o próprio mundo material. Cada ser no mundo é um pedaço de Deus, mas Deus é superior a todas as suas pequenas partes. O que está mais longe de Deus é o mundo material, e o que está mais perto de Deus é a inteligência e a alma. Para a filosofia cristã, a ideia de que o mundo e suas partes emanam de Deus não pode ser fundamentada, porque Deus é puro, homogêneo e não pode ser dividido. Então, quando Ele criou o mundo, o fez separado Dele. Uma ideia bastante difundida nas Igrejas cristãs de diversas denominações – criada pela filosofia cristã – é a de que o mundo não pode ter sido gerado do nada: o mundo veio da criação de Deus, e não do nada; afinal, se algo viesse do nada, ele deixaria de ser nada  para se tornar criador. Como sabemos, por dois motivos, muito se pode falar sobre o conceito de Deus na história da Filosofia. Primeiro, porque esse conceito foi um dos primeiros problemas filosóficos e, segundo, porque muitos sistemas filosóficos dependem desse conceito para saber sobre desenvolvimento. De qualquer forma, as ideias anteriormente esboçadas podem ser consideradas matrizes do problema filosófico de Deus. Deus não pode ser provado pela razão Existem algumas provas racionais da existência de Deus. Vejamos, sucintamente, as principais:
1. Todos os povos têm religião; a existência de uma divindade é um consenso universal (consensus gentis).
2. O mundo tem uma ordem e deve haver uma inteligência ordenadora de todas as coisas (São Thomas).
3. Tudo tem uma causa. Tudo que foi causado pode causar outras coisas. Deve haver algo que causa as coisas, mas não foi causado por ninguém. Deus é a causa não causada (Aristóteles).
4. Todas as coisas estão em movimento e movimentam outras coisas. O movimento é a passagem do que é (ato) para aquilo que pode vir a ser (potência). Deve haver um ser que movimenta as outras coisas, mas não é movimentado por nada, o primeiro motor – ou o motor imóvel (Aristóteles).
5. Tudo o que é alguma coisa participa de outra melhor. Por exemplo, algo quente participa do fogo. Cada ser tem um grau de perfeição, como o fogo e o objeto quente. O limite máximo da perfeição é Deus; acima Dele não há nada melhor (São Thomás).
6. Prova de São Thomás de Aquino — Cada ser precisa de algum outro para existir; este ser é chamado de ser possível. Por exemplo, para existir, uma criança precisa de um pai e de uma mãe. O pai e a mãe precisam de outros seres; estes, de outros, e assim por diante. Todas as coisas do mundo precisam de outro ser para existir. Mas há um ser que não precisa de ninguém para existir; a ele nós chamamos de ser necessário. Se todos os seres do mundo precisam de outro para existir, deve haver, portanto, um ser que dê a existência ao mundo e ao mesmo tempo não precise de nada para existir; esse ser necessário é Deus.
7. Prova de Santo Anselmo — Aquilo que nós não conseguimos pensar nada de maior não pode estar apenas no intelecto. Afinal, o intelecto não ultrapassa essa ideia nem a contém. Então, se o intelecto não ultrapassa essa ideia, quer dizer que ela também está fora dele, na realidade. Como um copo que transborda com a água, há água dentro e fora do copo. Deus é o ser que nós não conseguimos pensar nada maior. Por isso, ele não pode ser apenas uma ideia; ele é uma realidade. Para o filósofo Immanuel Kant, cada uma dessas provas é uma prova lógica, apenas racional. Mas nem sempre o que dá certo nas teorias lógicas acontece ou se repete no mundo real: a realidade não é devedora das nossas lógicas.
Nós somos seres que pensamos apenas por meio de categorias limitadas, como tempo e espaço.
Qualquer ser real, fora das nossas categorias, não pode ser conhecido, nem podemos provar a sua existência. Só podemos confirmar a existência de alguma coisa fazendo a experiência dela; do contrário, ela é uma suposição lógica, uma hipótese. Para Kant a prova de Santo Anselmo (item 7) incorre nesse erro. Do mesmo modo, a experiência objetiva nos diz que a prova da causalidade (3a) não é uma prova da existência de Deus. Nós sabemos que alguns efeitos têm determinadas causas.
De outros efeitos, não sabemos as causas. Por hipótese, é possível que haja uma causa inicial, mas, por não podermos repetir a experiência inicial, a prova perde seu valor. Novamente, o que é certo na lógica nem sempre é certo na realidade.

Kant disse o mesmo da prova da ordem do mundo. Se pensarmos que o mundo tem uma ordem, podemos certamente supor que haja alguém que tenha ordenado todas as coisas. Por exemplo, se olhamos uma casa bem feita, suporíamos que ali trabalhou alguém. Mas não sabemos quem foi esse alguém. Foi um arquiteto? Um engenheiro? Um pedreiro? Uma mulher? Um homem? Um jovem? Várias pessoas? Ou seja, sabemos que existe o mundo e que existe até mesmo certa ordem, mas quem é o responsável não podemos provar. Para Kant, a razão humana é limitada em diversos aspectos, reduzindo as possibilidades do nosso conhecimento. Mais ainda, ao procurar suas respostas, Kant não se contentava com jogos de palavras – não basta parecer que se prova, é preciso provar de verdade. Em sua obra A crítica da razão pura, Kant fez a crítica da razão sem as experiências e as provas da existência de Deus. Em outro livro, A crítica da razão prática, o filósofo procurou entender como funciona a racionalidade objetiva, isto é, envolvida com as experiências e, assim, com a vontade. Então, seria justamente na vontade livre do homem que Kant encontraria a certeza da existência de Deus. A razão prática se dá na ação do homem no mundo. Essa ação acontece pela condição única de ter uma consciência moral. Essa consciência moral está necessariamente ligada aos objetivos do homem – o que se deseja fazer, a vontade. Se tivermos objetivos, o caminho para eles é a razão deles, o seu dever. Sobre isso, Kant nos lembra que o dever só é bom porque ele é garantido pela liberdade; do contrário, não teria valor. Se a razão prática compreende os objetivos ideais, então não há diferença entre o ideal e o real; afinal, o dever é real e bom. Ser e dever ser encontram sua síntese: Deus. Deus é o sumo bem. Deus existe porque é nosso dever procurar o bem.





VOLTAIRE: ATEU, TEÍSTA, AGNÓSTICO, DEÍSTA OU PANTEÍSTA? 


Voltaire (1694 - 1778) é considerado um dos maiores defensores da liberdade civil e religiosa de todos os tempos. Iluminista consagrado, foi referencial para grandes nomes que se envolveram com a Revolução Francesa e a independência dos Estados Unidos. Em matéria de religião, o filósofo não deixou de revelar seu ponto de vista e, embora não tendo sido ateu, nem católico, pediu que lhe fosse dada a extrema unção. Pedido não aceito, acabou assinando uma última declaração, que será publicada no fim desta postagem. Em carta a Diderot, escreveu: "Confesso que não sou, em absoluto, da mesma opinião que Saunderson, que nega um Deus porque nasceu cego. Talvez eu esteja errado, mas no lugar dele eu reconheceria uma grande Inteligência que me deu tantos substitutos da visão; e percebendo, ao meditar, as maravilhosas relações entre todas as coisas, eu deveria ter desconfiado que existe um artífice infinitamente capaz. Se é muito presunçoso adivinhar o que Ele é e por que Ele fez tudo o que existe, parece-me também muito presunçoso negar que Ele existe." Voltaire não acreditva em milagres. Falando sobre um caso em que uma dona de um pardal havia rezado nove ave-marias em favor de seu referido passarinho (que acabou sobrevivendo), o filósofo retrucou: "Eu acredito numa Providência geral, cara irmã, que estabeleceu desde a eternidade a lei que governa todas as coisas, como a luz do sol, mas não creio que uma Providência particular altere a economia do mundo por causa do vosso pardal". Voltaire era deísta, embora vez por outra dava indícios de crer no panteísmo de Spinoza. Não foi ateu; pelo contrário, o achava antilógico. No final de sua vida achou que seria um bem para a Humanidade o homem acreditar piamente na existência de Deus. "Eu quero que meu advogado, meu alfaiate e minha mulher acreditem em Deus; assim, imagino, serei menos roubado, menos enganado", dizia Voltaire. E prosseguiu: "Quando essa crença evita até mesmo dez assassinatos, dez calúnias, afirmo que o mundo inteiro deve aderir a ela". Pelo menos em um ponto Voltaire e Platão comungavam da mesma ideia: "Se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo". O filósofo iluminista era prático: se o fato de se acreditar em Deus traz algum benefício, que o mundo todo creia em Deus. Voltaire falava da essência da mensagem cristã, embora soubesse que, na prática, a Igreja não se revelava como ensinava a primitiva doutrina apostólica. Em 1755, Lisboa fora sacudida por um terremoto, exatamente quando a Igreja comemorava o Dia de Todos os Santos, o que fez com que milhares de mortes ocorressem dentro dos templos. O clero francês se pronunciou dizendo que tal fato ocorrera por causa do pecado do povo. Voltaire se revoltou e escreveu: "Ou Deus pode evitar o mal, mas não quer; ou quer evitá-lo, mas não consegue". Próximo de sua morte, o filósofo desejou visitar pela última vez Paris. Em seu último leito, recebeu visitas ilustres, como Benjamin Franklin, que levou um de seus netos para que Voltaire o abençoasse. Depois que colocou as mãos sobre o menino, afirmou: "Dedique-se a Deus e à liberdade". Ainda em seu último leito, um padre se dirigiu a ele a fim de lhe dar a extrema unção. Voltaire rejeitou e fez a seguinte indagação: "Quem vos mandou aqui, senhor padre?" Este respondeu: "O próprio Deus". Em seguida, Voltaire retrucou: "Pois onde estão as vossas credenciais?" Com este diálogo, o filósofo afirmou que não acreditava que os padres eram mensageiros de Deus aos homens. Não se sabe se por arrependimento ou se pelo fato de Voltaire ter sido um homem de forte personalidade, ele pediu que outro padre se fizesse presente para que ouvisse sua última confissão. O novo padre disse que só o faria se Voltaire assinasse uma profissão de plena fé na doutrina católica. Voltaire se rebelou e dispensou o padre. Em vez da confissão de fé na Igreja, terminou assinando uma declaração que diz: "Morro adorando a Deus, amando meus amigos, sem odiar meus inimigos e detestando a superstição. (Assinado) Voltaire, 20 de fevereiro de 1778". Ele morreu no dia 30 de maio do mesmo ano.




INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA CULTURA – MITO E CULTURA

O Banquete, também conhecido como Simpósio (em grego antigo: Συμπόσιον, transl. Sympósion) é um diálogo platônico escrito por volta de 380 a.C.. Constitui-se basicamente de uma série de discursos sobre a natureza e as qualidades do amor (eros). Hesíodo, poeta grego do século VIII a. C., escreveu uma obra denominada Teogonia, na qual descreve em poemas a origem dos deuses gregos. Para ele, o deus do amor, Eros, era filho do primeiro deus manifesto no mundo: deus Caos. No poema de Hesíodo, Eros é o deus de extrema beleza e capaz de organizar o mundo, fazendo com que os seres saiam do caos e construam o cosmo. Em grego antigo, caos significa o início sem ordem e cosmo é o mundo organizado. Eros é o deus capaz de unir os seres e de organizar o mundo. Porém, na própria Antiguidade grega, há uma outra interpretação para a origem e o papel deste deus. Posterior à obra de Hesíodo, outro modo de interpretar o amor está registrado no diálogo O banquete, de Platão, segundo o qual o amor emana de um deus cujos pais são Poros (deus identificado como Recurso, por sua capacidade de encontrar recursos materiais) e Penia (deusa identificada como Pobreza). No dia do nascimento de Afrodite, deusa da beleza, Poros e Penia se encontraram e conceberam Eros, deus que vive com necessidade do outro, com necessidade de superar sua condição de um ser que nada tem e ao mesmo tempo um deus inteligente, inventivo, que por ser concebido no dia do nascimento de Afrodite, era belo, capaz de conquistar e de unir-se aos outros seres. A associação de Eros à deusa Afrodite foi interpretada por poetas posteriores a Hesíodo como uma relação de mãe e filho. Há uma tradição bastante divulgada sobre a mitologia grega que apresenta Eros como filho de
Hermes e Afrodite.
Cultura versus natureza - Quando falamos a palavra “cultura”, podemos pensar em duas possibilidades. Uma na qual essa palavra é entendida como acúmulo de conhecimentos e outra na qual a palavra “cultura” é entendida como ação dos homens sobre a natureza por meio do trabalho. O conceito de cultura é derivado da natureza, em especial do ato de cultivar uma lavoura. Por isso, a cultura tem seu início absolutamente material, passando, mais tarde, a ser entendida como atividade do espírito, principalmente como atividade dos homens urbanos, não mais do meio rural. O indivíduo culto não é mais o lavrador, e sim o estudioso da cidade. Nessa concepção mais tradicional de cultura, ela aparece como relação do homem com a natureza – a cultura pertence ao mundo dos homens e é a sua forma de vencer os descaminhos e os sofrimentos causados pela natureza; a cultura está no mundo do espírito humano e deve, por seu turno, colonizar quem está próximo à natureza e distante do mundo intelectual.
Cultura e Estado - Com certeza, não é partindo do nada que imaginamos o que queremos ser ou nos tornar. Por isso, precisamos da ajuda ou do exemplo dos outros. Por exemplo, se alguém quiser ser ator, necessitará de apoio para isso, desde o financeiro até o incentivo para o exercício da arte de representar. Ora, o Estado brasileiro tem o dever de ajudar as pessoas a se formar como cidadãos, como repetimos exaustivamente. No entanto, a mera repetição dessa ideia produz resultados infinitamente pequenos. É preciso considerar outros campos de atuação estatal que incluem, por exemplo, a regulamentação dos meios de comunicação, as políticas educacionais e os incentivos artísticos e culturais. Nessa concepção, a cultura é o que está entre a maquinaria do Estado e a sociedade civil, criando tensões e, ao mesmo tempo, produzindo unidades entre um e outro. Do ponto de vista do Estado, a cultura deve ser civilizadora, isto é, deve fazer com que as pessoas se tornem mais sociáveis.  Portanto, podemos concluir que relativismo cultural, corresponde ao olhar os outros sabendo que nosso juízo está submetido aos nossos valores. Segundo Cassirer, o homem é um ser simbólico porque: compreende o mundo e os outros, por meio de símbolos, ritos, gestos, mitos e religião.

MITO E CULTURA
Poetas e filósofos da Grécia Antiga, no período que abarca os séculos VIII, VII e VI a.C., registraram diferentes interpretações para compreender o amor e sua importância para os seres humanos. Hesíodo, poeta grego do século VIII a. C., escreveu uma obra denominada Teogonia, na qual descreve em poemas a origem dos deuses gregos. Para ele, o deus do amor, Eros, era filho do primeiro deus manifesto no mundo: deus Caos. No poema de Hesíodo, Eros é o deus de extrema beleza e capaz de organizar o mundo, fazendo com que os seres saiam do caos e construam o cosmo. Em grego antigo, caos significa o início sem ordem e cosmo é o mundo organizado. Eros é o deus capaz de unir os seres e de organizar o mundo. Porém, na própria Antiguidade grega, há uma outra interpretação para a origem e o papel deste deus. Posterior à obra de Hesíodo, outro modo de interpretar o amor está registrado no diálogo O banquete, de Platão, segundo o qual o amor emana de um deus cujos pais são Poros (deus identificado como Recurso, por sua capacidade de encontrar recursos materiais) e Penia (deusa identificada como Pobreza). No dia do nascimento de Afrodite, deusa da beleza, Poros e Penia se encontraram e conceberam Eros, deus que vive com necessidade do outro, com necessidade de superar sua condição de um ser que nada tem e ao mesmo tempo um deus inteligente, inventivo, que por ser concebido no dia do nascimento de Afrodite, era belo, capaz de conquistar e de unir-se aos outros seres. A associação de Eros à deusa Afrodite foi interpretada por poetas posteriores a Hesíodo como uma relação de mãe e filho. Há uma tradição bastante divulgada sobre a mitologia grega que apresenta Eros como filho de Hermes e Afrodite.
Cultura versus natureza - Quando falamos a palavra “cultura”, podemos pensar em duas possibilidades. Uma na qual essa palavra é entendida como acúmulo de conhecimentos e outra na qual a palavra “cultura” é entendida como ação dos homens sobre a natureza por meio do trabalho. O conceito de cultura é derivado da natureza, em especial do ato de cultivar uma lavoura. Por isso, a cultura tem seu início absolutamente material, passando, mais tarde, a ser entendida como atividade do espírito, principalmente como atividade dos homens urbanos, não mais do meio rural. O indivíduo culto não é mais o lavrador, e sim o estudioso da cidade. Nessa concepção mais tradicional de cultura, ela aparece como relação do homem com a natureza – a cultura pertence ao mundo dos homens e é a sua forma de vencer os descaminhos e os sofrimentos causados pela natureza; a cultura está no mundo do espírito humano e deve, por seu turno, colonizar quem está próximo à natureza e distante do mundo intelectual.
Liberdade e determinismo - Se retomarmos a questão posta à lousa, temos aqui uma importante reflexão. Quem nos governa, a natureza ou nossas ideias? Nosso corpo ou nosso pensamento? Dessa maneira, a cultura pode significar o uso da liberdade, enquanto a natureza pode significar o determinismo biológico. Ao imaginar, sonhar, planejar, escrever, trabalhar, conduzir, governar, rezar ou se divertir, o homem exerce sua liberdade, enfrenta os sofrimentos causados pela natureza, prevê condições de alívio e consola-se diante do inevitável ou das suas derrotas. O homem percebe seu lugar de origem, sua identidade e, ao mesmo tempo, compreende que pode mudar e ter suas raízes autotransportadas. A natureza estaria apenas posta diante dos homens, exigindo deles não mais que uma vida animal, submetendo-os aos destinos dos que não pensam antes de agir, dos que não imaginam nem planejam uma vida mais significativa. A natureza impõe o corpo, a fome, o impulso sexual, a necessidade de saciar a sede, a doença, o cansaço, o calor e o frio. Com a natureza, o destino do homem está traçado. Um destino nada significativo, assim como a vida e a morte de qualquer animal.
A cultura em transição com a natureza - Um dos atos culturais por excelência é a arte. Seria possível imaginá-la sem a natureza? Como pensar um quadro paisagístico sem a paisagem e sem o material como a tela e a tinta que se originam na natureza? Uma música sem paixão? Um marceneiro sem a madeira? Um escultor sem a pedra ou o metal? Segundo essa
concepção, natureza e cultura estão em acordo recíproco. Por isso, o homem não é fruto determinado de seu ambiente; ele é livre, mas é intimamente influenciado pela natureza. Voltando ao exemplo da arte, por mais livre que seja um pintor, ele estará, ao mesmo tempo, limitado e inspirado por seus instrumentos – o tipo de pelo animal de seu pincel, o tipo de pigmento de sua tinta, a paisagem, o objeto ou o corpo que quer representar. Limitado, porque talvez não consiga colocar na tela seus sentimentos mais profundos; inspirado, porque sabe que pode fazer algo cada vez mais belo, com base naquilo que a natureza lhe oferece, porque domina sua técnica, avança em seus limites, diz o que ainda não foi dito, ou reproduz o já expresso
de seu próprio modo. Assim, convém relativizar a ideia naturalista, que afirma ser a cultura uma expressão da natureza e sua determinação, o que devemos fazer também com o idealismo, pois as ideias estão associadas diretamente ao ambiente das pessoas. O fazer e o natural estão, portanto, indissociavelmente ligados.
A cultura é uma construção de si mesmo - Quando pensamos que a cultura constrói cada um de nós, o nosso eu, podemos supor uma divisão em nós: o eu inferior e o eu superior. Nessa relação, a natureza estaria no eu inferior, como desejo e paixão, e a cultura estaria no eu superior, como vontade e razão. Desse modo, a natureza não estaria apenas em nosso corpo ou em nosso entorno. Ela está no mais íntimo de cada um de nós. Mesmo assim, a natureza não seria capaz de
nos saciar, porque não poderíamos viver apenas de desejos e porque, se isso fosse possível, não precisaríamos de cultura. A cultura é uma necessidade física e subjetiva de cada um de nós. Por essa ideia de cultura, podemos entender que somos capazes de nos inventar, já que estamos sempre nos fazendo. Assim, por exemplo, uma pessoa culta é aquela pessoa que inventou um ser para si. Por exemplo, se alguém quiser ser roqueiro, o que deve fazer? No mínimo, deve aprender a escutar rock, conversar com quem entende do assunto, ler sobre ele, aprender a tocar algum instrumento. O indivíduo não nasceu roqueiro; ele se inventou, criou uma forma pessoal de ser. Do mesmo modo, qualquer um de nós pode se inventar. Caso não nos inventemos, estaremos determinados pelo mundo que nos rodeia. Podemos ser pessoas pacientes, agradáveis, chatas; enfim, tudo é questão de escolha e atividade cultural. Mas nem sempre se inventar é fácil. Somos uma espécie de planta que precisa ser cultivada por nós mesmos.
Cultura e Estado - Para discutir a relação entre cultura e Estado, apresente aos alunos, inicialmente, um conceito sucinto de Estado. Em seguida, pergunte-lhes: Além de nós e das influências que recebemos de outras pessoas, quem pode nos ajudar a nos inventar? Com certeza, não é partindo do nada que imaginamos o que queremos ser ou nos tornar. Por isso, precisamos da ajuda ou do exemplo dos outros. Por exemplo, se alguém quiser ser ator, necessitará de apoio para isso, desde o financeiro até o incentivo para o exercício da arte de representar. Ora, o Estado brasileiro tem o dever de ajudar as pessoas a se formar como cidadãos, como repetimos exaustivamente. No entanto, a mera repetição dessa ideia produz resultados infinitamente pequenos. É preciso considerar outros campos de atuação estatal que incluem, por exemplo, a regulamentação dos meios de comunicação, as políticas educacionais e os incentivos artísticos e culturais. Nessa concepção, a cultura é o que está entre a maquinaria do Estado e a sociedade civil, criando tensões e, ao mesmo tempo, produzindo unidades entre um e outro. Do ponto de vista do Estado, a cultura deve ser civilizadora, isto é, deve fazer com que as pessoas se tornem mais sociáveis.
Conceito de cultura - Em geral, podemos dizer que a cultura é a ação dos homens com ou sobre a natureza, por meio da objetivação da consciência (Hegel), pelo trabalho em sociedade (Marx), pela instituição de símbolos (Cassirer), por uma lei simbólica (Lévi-Strauss), por meio do contrato social (Rousseau), por meio da  educação (Cícero). Em síntese, essa ação produz técnicas, valores, conhecimentos, ideias, religiões, artes e tudo o que circunscreve o mundo humano.





INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA ARTE – NIETZSCHE

Friedrich Nietzsche (1844-1900) foi um filósofo e escritor alemão de grande influência no Ocidente. Sua obra mais conhecida é “Assim Falava Zaratustra” ( O pensador estendeu sua influência para além da filosofia, penetrando na literatura, poesia e todos os âmbitos das belas artes. Para Nietzsche, os gregos perceberam que há duas forças diferentes na arte e na vida. Uma ele chamou de apolíneo e a outra de dionisíaco. Da mesma maneira que uma criança que para chegar ao mundo necessita dos dois sexos, a arte necessita dessas duas forças. Elas nem sempre estão unidas, lutam uma com a outra, porque são muito diferentes. No entanto, ao observar essa luta e os momentos de reconciliação, pode-se retirar profundos ensinamentos sobre a vida. 
A luta do dionisíaco e do apolíneo nos revela a própria vida humana, que apresenta sonho, paixão, transformações, festa, prazeres do corpo e do espírito, situações sombrias, necessidade de ordem, lutas. Apolo é o deus das imagens e das artes plásticas, o impulso do visual. Dionísio é o deus da música, do que é visual e corpóreo, como a dança. Os gregos conseguiram reunir essas duas forças na tragédia grega. Algumas características do apolíneo e do dionisíaco: Apolíneo: Sonho (homem adormece); Aparência (o homem copia as formas); Filosofia (na razão que faz pensar); Luz (nada pode ser oculto); Ordem (tudo deve ser harmônico); Do individual (se entende como único). E Dionísiaco: Embriaguez (do vinho e dos prazeres – a loucura); Da dança (sentir a natureza do corpo); Selvagem (viver com a força das paixões); Da mutação (não precisar sempre ser o mesmo, o devir); Violência (como na natureza); Do coletivo (esquecer de si em meio a algo maior, como na alegria da festa, ou da natureza).
Diferentemente da maioria dos intelectuais de seu tempo, Nietzsche procurou não olhar a arte apenas como serenidade, como era vista pela cultura romântica da sua época, mas como impulso, pulsão e instinto. Para ele, a arte que procura a serenidade é algo absolutamente superficial, assim como “a arte pela arte” era apenas “um verme que se morde o rabo”. Para pensar a arte, Nietzsche recorreu à mitologia da religião grega antiga, em especial aos deuses Dionísio (o deus do vinho e do prazer) e Apolo (o deus da perfeição, da cura e do Sol). Para Nietzsche, Apolo representava o desejo de descansar dos problemas da vida, como no sonho, mas, ao fazer arte, o homem encontraria uma reparação dos infortúnios da vida. Dessa maneira, por meio da criação de imagens, o homem enfrentaria a sua finitude, a sua solidão e a força destruidora da natureza presente em cada um. A arte seria, assim, um consolo para o sofrimento da existência. Desse modo, cada um dos deuses gregos representava algo de profundamente humano. Dionísio, por sua vez, representava o outro lado da arte, a embriaguez como o esvaziamento do eu. Por ele, esqueceríamos de nós e nos uniríamos à natureza, produzindo prazer e terror. A subjetividade acabaria anulada no profundo contato com a exterioridade da arte. Portanto, há na cultura grega as duas dimensões, a saber: a dimensão apolínea da continuidade, da construção e do otimismo; e a dimensão dionisíaca, do retorno à natureza, da ruptura e do pessimismo. Unidos, esses dois elementos produziram a tragédia grega, com as imagens provenientes de Apolo, e a música, proveniente de Dionísio.






Objetivos das Situações de Aprendizagens 6, 7, e 8 de Filosofia – 1º ano.

S.A 6 - INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA RELIGIÃO –DEUS E A RAZÃO = O objetivo desta Situação de Aprendizagem é apresentar ao aluno o uso da racionalidade relacionada à existência de Deus. Seria possível conhecer Deus com base na razão? Como ela pode saber sobre Sua existência? Há limites?
Conteúdos e temas: Deus; provas da existência de Deus; Kant; Voltaire; tolerância.
Competências e habilidades: desenvolver noções sobre os limites da racionalidade e, ao mesmo tempo, abrir espaço para o diálogo com base nas questões de alteridade.

S.A. 7 - INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA CULTURA – MITO E CULTURA = Considerando a importância da compreensão do homem em sua dimensão simbólica, objetiva-se, com esta Situação de Aprendizagem, a problematização dos aspectos simbólicos e filosóficos da cultura.
Conteúdos e temas: mito; cultura; alteridade; etnocentrismo e relativismo cultural.
Competências e habilidades: as competências aqui consideradas dizem respeito à reflexão e à práxis da alteridade. Ao compreender o aspecto simbólico do homem, o aluno terá a oportunidade de reforçar seus compromissos de cidadania e respeito à diferença.

S.A. 8 - INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA ARTE – NIETZSCHE = A Filosofia da Arte é fundamental para o desenvolvimento integral e existencial do educando. Por isso, você poderá discutir, com base em Nietzsche, a formação do pensamento estético e relacioná-lo com a Mitologia e a cultura.
Conteúdos e temas: Nietzsche; arte; dionisíaco; apolíneo.
Competências e habilidades: ao final desta Situação de Aprendizagem, o aluno deverá ser capaz de perceber a condição estética e existencial do homem. Desse modo, desenvolverá a escrita, relacionando-a ao sentido do belo e à compreensão da vida e da cultura, em sentido amplo.


TRABALHO DE FILOSOFIA

1) Redija um texto dissertativo-argumentativo, abordando e relacionando a ideia central da Situação de Aprendizagem 6, com a ideia central sobre a visão de Voltaire em relação à Deus:  
             
2) Refletir e registrar sobre a importância do conceito de alteridade para a análise de diferentes culturas:

3) Relacionar e registrar práticas de cidadania ao respeito às diferenças:

4) Discutir e registrar a condição estética e existencial dos seres humanos:

5) Questionar e registrar o conceito de etnocentrismo no contexto da reflexão sobre relações entre diferentes culturas:

6)  Discutir e registrar a relação entre cultura e natureza:
            





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